Um olhar para a Filantropia das Famílias de Alto Patrimônio no Brasil

*Silvia Daskal

A pesquisa “Famílias de Alto Patrimônio no Brasil – Investimento de Impacto e Filantropia”, publicada recentemente pela Sitawi Finanças do Bem, lançou um olhar para as práticas de alocação de recursos das famílias de alto patrimônio, tanto em investimento quanto em filantropia. Aqui eu foco apenas da alocação filantrópica.

O interesse na filantropia dessas famílias surgiu pela alta liberdade que elas têm de alocar seu capital, pelo próprio volume de recursos de que dispõe e, também, pelo seu potencial de impacto e influência.

A sessão de Filantropia da pesquisa contou com 21 respondentes, sendo 12 Single-Family Offices (SFOs) e 9 Multi-Family Offices (MFOs). Parece pouco, mas considerando que esta é a primeira edição da pesquisa e que os respondentes trabalham com carteiras/patrimônio entre R$ 50 milhões até mais de R$ 1 bilhão, temos uma “fotografia” do momento atual da filantropia dessas famílias e insights importantes sobre suas práticas filantrópicas.

Se você está se perguntando o que significam essas siglas, eu te explico: SFOs são Single Family Offices criados pelas próprias famílias com objetivo de administrar seu patrimônio e investimentos. Já os MFOs são organizações independentes que assessoram várias famílias na gestão de seu patrimônio.

Vamos aos dados!

A pesquisa aponta um desafio significativo na integração da filantropia às práticas regulares e estruturadas de gestão de patrimônio. Embora a maioria (83%) manifeste interesse no tema, apenas metade está consistentemente envolvida com a filantropia. Além disso mais de 25% não têm um padrão específico para doações anuais. Esses dados sugerem uma oportunidade de desenvolver práticas filantrópicas mais estruturadas e alinhadas às estratégias de gestão de patrimônio e a necessidade de serviços de apoio à filantropia mais eficazes, especialmente por parte dos MFOs, que ainda não integraram essa dimensão em suas atividades.

Também descobrimos que a filantropia dessas famílias vai além do Sudeste, alcançando Nordeste, Amazônia e o exterior, e que os ODS da ONU, servem de critério para alocação das doações, porém ainda de forma incipiente.

Segundo a pesquisa, apoios emergenciais e apoio à capacitação e estruturação de organizações sociais (curto e médio prazo) recebem um volume significativo de recursos. Já a filantropia de longo prazo, voltada para a incidência/advocacy, ainda é pouco explorada, com poucos doadores e um menor volume de recursos.

Os Family Offices, tanto os SFOs como os MFOs, consideram a filantropia como uma maneira de aumentar seu impacto social. No entanto, desafios como a falta de conhecimento especializado e a ausência de mandato para buscar oportunidades precisam ser superados. Assim, a sensibilização e a capacitação em temas da filantropia e a estruturação e integração de práticas filantrópicas nas atividades regulares de gestão de patrimônio são fundamentais para alavancar a filantropia das famílias de alto patrimônio no Brasil e ampliar o seu impacto.

Por outro lado, se considerarmos que a maioria das famílias indicou que têm ou pretende criar um instituto ou fundação para centralizar a alocação de doações, fica claro que as famílias estão pensando e exercendo a filantropia, mas que suas práticas, anseios e objetivos filantrópicos ainda não chegam a seus gestores de patrimônio. É como se as famílias e suas gestoras de patrimônio estivessem no piloto automático, seguindo suas rotinas, sem se dar conta de que filantropia e gestão de patrimônio, juntas, potencializam os impactos, as transformações e o legado socioambiental que as famílias esperam deixar para as futuras gerações.

Isso reflete uma tendência que já observamos em outras oportunidades: ainda falamos pouco sobre filantropia no Brasil. Já temos iniciativas que estão trazendo o tema das doações para as conversas nas famílias, escolas, empresas e, sem dúvidas, precisamos falar mais sobre filantropia com os Family Offices!

*Gerente de Parcerias Institucionais na Sitawi Finanças do Bem, atua com filantropia e impacto social há 14 anos. Participa da Rede Conexão Captadoras – Women in Fundraising, do Comitê Científico do Festival ABCR 2024 e é integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.

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