ONGs LGBT+ pedem que Moraes proíba discursos contra crianças trans nas eleições

Documento afirma que grupo tem sido alvo de ataques na política brasileira

Um grupo de ONGs que atua em prol dos direitos de pessoas LGBTQIA+ enviou um ofício ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ministro Alexandre de Moraes, pedindo que a corte emita uma normativa que proíba, especificamente, o uso de “manifestações discriminatórias contra as crianças e adolescentes trans” nas eleições municipais de 2024.

O documento afirma que pessoas transexuais menores de 18 anos têm sido alvo de ataques na política brasileira. “Uma forma de violência sofrida tem sido o movimento dos membros do poder legislativo de regressão e redução de direitos desse grupo em situação de vulnerabilidade”, completa.

O ofício cita um levantamento da organização Minha Criança Trans, uma das signatárias do documento, que mostra que há ao menos 25 projetos de lei federais e estaduais que visam reduzir os direitos das crianças e dos adolescentes trans. A ONG foi fundada por Thamirys Nunes, autora de um livro de mesmo nome.

Uma das propostas é do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, que propõe alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para “criminalizar condutas de pessoas que instigam, incentivam, influenciam ou permitem criança ou adolescente” a fazer transição de gênero.

A pesquisa cita também a movimentação de vereadores de São Paulo que querem abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o acompanhamento de transição de gênero de crianças e adolescentes feito pelo Hospital das Clínicas da USP.

Além disso, o ofício reúne uma série de manifestações de políticos com discursos contra a população transexual, especialmente vindo de parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Há publicações dos deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Mário Frias (P-SP) e Messias Donato (Republicanos-ES) que afirmam que crianças trans “não existem”.

“A proteção dos direitos das crianças e adolescentes trans no Brasil atravessa um cenário atual grave e alarmante com sérias ameaças de movimentação dos membros do poder legislativo visando o retrocesso da proteção devida, incluindo a sua criminalização”, diz o documento enviado a Moraes.

As entidades afirmam que “há um padrão de utilização” da pauta por políticos. “A presente organização se preocupa com a possibilidade da utilização da bandeira de criminalização e descredibilização das crianças e adolescentes trans, sendo esse um discurso comum entre candidatos de partidos conservadores”, seguem.

O documento é endossado por outras 16 entidades como a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat) e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH).

“A organização Minha Criança Trans e demais redes que assinam este ofício, vem requerer que seja emitida uma resolução ou normativa para determinar especificamente a proibição da utilização de manifestações discriminatórias contra as crianças e adolescentes trans, inclusive que neguem a sua existência”, finaliza o ofício.

A peça é assinada pelos advogados Carlos Nicodemos, Maria Fernanda Fernandes Cunha e Karina Guimarães.

Fonte: Folha de S.Paulo

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