ONG cria campanha “Mulheres Contra o Centrão”

“Mulheres Contra o Centrão”, campanha criada pelo Mapa do Acolhimento, em defesa dos ministérios chefiados por mulheres, aponta violência política de gênero e ausência de análises profundas dos motivos para as trocas

Na busca pela reconstrução do país, por meio da retomada dos investimentos em políticas públicas e uma gestão qualificada, o presidente Lula nomeou o maior número de mulheres em seus ministérios, visto no Brasil até então. Nomeou mulheres negras e indígenas, porém esse ambiente de avanços corre o risco de ser modificado na troca da “governabilidade”. O presidente, atualmente, está em negociação com o Centrão para modificar, trocar e exonerar ministras como Cida Gonçalves, Ana Moser e Nísia Trindade.

Como forma de pressionar o presidente a não ceder as pastas para o Centrão e cumprir com os compromissos que a gestão fez quando se elegeu, de defender essas agendas e trazê-las para a pauta de governo, o Mapa do Acolhimento, organização que combate o feminicídio e também atua no fortalecimento das políticas públicas de prevenção ao feminicídio, criou a campanha “Mulheres Contra o Centrão”. Campanha em defesa dos ministérios chefiados por mulheres e para apontar, não só a violência política de gênero, mas também os retrocessos que essas movimentações representam para as mulheres brasileiras.

Para Manuela Arruda, mobilizadora do Mapa do Acolhimento, “o Brasil acaba de sair de um cenário de retrocesso político, foram 6 anos entre o golpe que levou Michel Temer ao poder e a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao longo destes anos, vimos uma redução significativa nos investimentos voltados para as políticas públicas. E, durante a gestão Bolsonaro, esse desmonte das políticas públicas se intensificou, com consequências gravíssimas para as mulheres”. 

Desde o início da gestão do presidente Lula, o Centrão realiza investidas para desmobilizar, negociar e barganhar ministérios da atual gestão, principalmente aqueles chefiados por mulheres e pessoas negras. Essas investidas se tornaram cada vez mais fortes nesse último mês: em busca de maior participação no alto escalão do governo, os partidos como União Brasil e Republicanos estão querendo ocupar postos centrais e, para isso, estão pressionando o presidente em troca de um suposto “apoio” no Congresso Nacional. Nessas negociatas, o que se vê é a desqualificação do quadro de ministras e um verdadeiro toma lá dá cá.

Buscando um ambiente supostamente mais tranquilo para trabalhar a partir de agosto, quando o Congresso Nacional retomou as atividades parlamentares, Lula abriu as portas do Palácio do Planalto para negociar e ceder cargos e liberou emendas parlamentares em troca de apoio. Estão na mira dessas mudanças o Ministério da Saúde (Nísia Trindade), o Ministério dos Esportes (Ana Moser), o Ministério das Mulheres (Cida Gonçalves), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Luciana Santos), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (Esther Dwek) e a presidência da Caixa Econômica Federal (Rita Serrano). Na opinião da organização, o presidente desmobiliza toda a sua construção política ministerial. Ao tirar do comando pessoas qualificadas para ocupar esses cargos, expõe aos desmandos do Centrão as posições do elo mais fraco da política institucional brasileira, que são as mulheres.

Para a organização, garantir a permanência de pessoas como Cida Gonçalves, Ana Moser, Silvio Almeida, Nísia Trindade, é garantir uma estrutura coerente e fundamentada na construção de uma gestão político-administrativa baseada em dados, evidências, técnica e qualificação. Na dança das cadeiras da política, são sempre as mulheres que ficam de fora: de um lado, temos a perseguição explícita contra deputadas eleitas, que podem ser cassadas por se posicionarem com firmeza; de outro, pelo menos quatro ministras correm o risco de serem exoneradas – ou “movidas de lugar” para atender às pressões do Centrão. “Apesar da linda lembrança que temos da posse, com representatividade e um discurso inclusivo, não temos um governo paritário, com igualdade no número de ministros homens e mulheres. Para piorar, as pastas lideradas por mulheres estão servindo de moeda de troca, ignorando os anos de experiência, o compromisso do trabalho que já vem sendo realizado depois de tantos anos de desmonte das políticas públicas”, afirma Manuela Arruda.

Nesse toma-lá-dá-cá, a ministra das mulheres Cida Gonçalves, com anos de experiência no enfrentamento às violências contra as mulheres, está com seu cargo ameaçado. Se Lula ceder à pressão feita pelo Centrão, a ministra das mulheres poderá ser substituída pela ministra da ciência e tecnologia ou pela ministra da gestão. Cada ministério tem sua importância e, em se tratando do Ministério das Mulheres, não se pode permitir um enfraquecimento dele nem por um minuto, considerando a extensão e gravidade da violência contra as mulheres no Brasil. “Não é apenas a representatividade pela representatividade. Mesmo sendo ocupado por outra mulher, precisamos que a pessoa que assumir este cargo esteja alinhada com as pautas que afetam as mulheres brasileiras. Além disso, é um retrocesso com relação ao andamento do  trabalho que a Ministra Cida Gonçalves vem desempenhando desde que foi anunciada como chefe do Ministério das Mulheres”, afirma Manuela Arruda.

A campanha busca pressionar o Presidente, pois a sua tomada de decisão impacta diretamente as mulheres ministras que estão ocupando os cargos de alto escalão do Palácio do Planalto, as secretárias e secretários que estão construindo essa gestão juntamente com as ministras, bem como a sociedade brasileira que ganha com a permanência de ministras técnicas e qualificadas. Manuela afirma que, “em uma canetada, o presidente pode substituir as ministras e realizar mudanças estruturais em seus ministérios e na sua política de governo. É necessário agir com urgência e demonstrar para o presidente que queremos a permanência das ministras nos seus cargos”. 

Fonte: Mapa do Acolhimento

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