A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em parceria com a Gerando Falcões e a Purpose Brasil desenvolve a campanha Territórios do Cuidado, que, em 2024, deve chegar a mais favelas brasileiras. No último ano, o projeto beneficiou a comunidade da Favela dos Sonhos, em São Paulo. Um desafio desta nova fase é que a ONG não precise estar fisicamente no território para que a campanha continue a ajudar as famílias e as crianças. A ideia é dar continuidade, por meio, principalmente, de lideranças locais para que sejam os atores principais da ação. Segundo a líder de portfólio da Fundação, Sarah Maia, visitas a novos territórios já estão em curso.

“A gente vai continuar na Cidade de Deus, aqui de São Paulo, que é próxima à Favela dos Sonhos, em Ferraz Vasconcelos. Mas também fomos para Guarulhos visitar um outro território bem vulnerável. E a gente quer expandir para outros estados, sair desse eixo de São Paulo. Uma comunidade que também está no radar é o Morro da Providência, no Rio, e talvez as favelas de Pernambuco. Então, a gente está estudando agora, para 2024, ampliar para, no mínimo, seis favelas”, levanta Sarah Maia.

Após pesquisa feita na Favela dos Sonhos, 50% dos entrevistados afirmaram ter observado uma mudança na forma como a favela se relaciona com as crianças já nas semanas seguintes à campanha. Além disso, 21,62% dos entrevistados disseram que as famílias pareciam mais unidas e 42,43% das pessoas relataram aumento de atenção da favela em relação aos pequenos.

Desde 2007, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal atua pela Primeira Infância, com o objetivo de contribuir para que todas as crianças brasileiras tenham um desenvolvimento pleno desde o começo da vida. As iniciativas são pautadas a partir de duas frentes: fortalecimento das políticas públicas e ativação da sociedade. Pensando nisso, a ONG se uniu a Gerando Falcões e a Purpose Brasil na campanha Territórios do Cuidado.

“Em 2021, o projeto chamado Unidos pelo Brincar promovia espaço de interação e brincar em determinados territórios do Brasil e outros lugares do mundo. Peru, África do Sul e o Brasil eram alguns dos países contemplados. Nessa época, eles conheceram o território da Favela dos Sonhos, que é a antiga Boca do Sapo, que fica em Ferraz de Vasconcelos, e que é o primeiro território da Favela 3D”, relembra Sarah.

A Favela 3D é um projeto da Gerando Falcões, com o objetivo de transformar as favelas em ambientes Dignos, Digitais e Desenvolvidos. Nessa jornada, a campanha Territórios do Cuidado se encaixou. Juntos, também investiram em uma intervenção urbana: a construção de um parquinho pensado para a primeira infância na Favela dos Sonhos.

“Eles entenderam que a importância da primeira infância vai para além do brincar, e que eles precisavam sensibilizar as famílias também de outra forma, trazer outros conceitos que não só o brincar para aquele território. Dentro da mandala da favela 3D, tem a geração de renda, empregabilidade, saúde, educação, liderança feminina e tem primeira infância. O Edu Lyra [fundador e CEO da Gerando Falcões] vê a primeira infância também como essa potência, esse potencial de transformação para a sociedade, como uma possibilidade de quebrar ciclos de pobreza e diminuir a desigualdade. Depois, a Purpose veio falar com a gente no desejo de fazer algo também essa parte da primeira infância dentro da mandala da favela 3D”, destaca.

As 3 organizações se uniram pelo propósito de modificar a realidade da Favela dos Sonhos e a maneira que a favela enxerga e cuida das crianças entre 0 e 6 anos de idade. Sarah conta que a campanha também foi construída em cima dos apontamentos feitos pelas famílias e lideranças que habitam a Favela dos Sonhos.

“Conversamos com as mulheres que estavam liderando as conversas, os jovens, as famílias, para fazer um diagnóstico, entendeu qual era a realidade daquelas famílias, como estavam vivendo as crianças, quantas crianças até seis anos estavam morando na comunidade, quantas delas estavam na escola, quantas estavam na creche, quem cuidava dessas crianças no dia a dia. Portanto, a partir dos desafios que foram trazidos pelas famílias, os dados obtidos das entrevistas que fizemos e os trazidos pelas lideranças, a gente foi construindo, então, uma campanha que tinha como objetivo sensibilizar a comunidade, não só as famílias para a importância dessa fase da vida e a necessidade do cuidado e do olhar para esses bebês e crianças”, explica ela.

Depois de reunir todos os dados, pelo período de um mês e meio, a campanha rodou por toda a comunidade, em diferentes canais, para chamar a atenção para as necessidades básicas das crianças daquele território. 

“A gente falou muito também da saúde, a importância da vacina, dos cuidados básicos com saúde nessa fase da vida e especialmente da interação, do afeto e do carinho. As ações aconteceram muito no boca a boca, então a gente foi de porta em porta, levou uma cartinha falando que a campanha estava chegando, colocava cartazes onde as pessoas podiam destacar ideia de brincadeira, ideia de interação, cutucava as famílias – Você já conversou com seu filho hoje? Já brincou com ele?- Então foi daí que surgiu o mote da campanha Criança é responsa do mundo”.

Nenê, o personagem

A campanha Territórios do Cuidado também contou com ações do personagem Nenê, que foi criado em 2020 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. O Nenê nasceu da ideia de trabalhar de forma lúdica o cuidado com as crianças pequenas e conscientizar sobre as necessidades na primeira infância. Ele traduz o conhecimento que a organização produz para o público das redes sociais e comunidades atendidas pela organização.

“Eu nasci com a missão de ajudar pais e mães de famílias de todo o Brasil a cuidar dos primeiros anos de nenês e crianças. Eu levo informações e dicas para as redes sociais sobre essa fase tão importante da vida. Em 2023, eu saí das redes e fui conhecer a Favela dos Sonhos. Com o apoio da Gerando Falcões, levei todo o meu conhecimento para as famílias da comunidade: na rádio, na casa das pessoas e nos muros do parquinho”, diz Nelson Neto, o famoso Nenê.

De acordo com Sarah Maia, o  Nenê existe “não para falar com as crianças, mas para sensibilizar os cuidadores, pais, e mães que já foram crianças, que ele chama de ex-nenês, para também trazer essa percepção da infância, de quem já foi criança, de quem já brincou, para trazer a importância e a relevância dessa fase. Ele é o porta-voz da apresentação da campanha para as famílias”.

Confira o terceiro episódio do podcast Repórter Pauta Social:

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)