SOS Amazônia realiza seminário de avaliação final do projeto Nossabio

O encontro foi realizado no Hotel Terraverde, em Rio Branco, nos dias 10 e 11 de outubro, e contou com a participação de extrativistas, pesquisadores, representantes de associações comunitárias, cooperativas e empresas ligadas ao projeto

“Quando é chuva, é chuva descontrolada. Quando é sol, ninguém aguenta”, resume o produtor Francisco Melo sobre os efeitos das mudanças climáticas no Seringal Porongaba, onde reside, na Reserva Extrativista Chico Mendes.

“A mudança climática causa grande prejuízo. O seringueiro obtém bom resultado quando o tempo está mais frio, porque a seringueira consegue soltar mais leite. Com o tempo muito quente, o vento bate e resseca o corte da seringa. E isso causa impacto muito grande para quem vive e necessita dessa produção”, preocupa-se.

Chico Melo, como é conhecido, é um dos extrativistas que participaram do seminário de avaliação final do projeto Nossabio, realizado pela SOS Amazônia com o objetivo de compartilhar resultados, experiências e desafios enfrentados durante a execução do projeto, que tem como objetivo fortalecer a governança e a produção extrativista em unidades de conservação.

O encontro foi realizado no Hotel Terraverde, em Rio Branco, nos dias 10 e 11 de outubro, e contou com a participação de extrativistas, pesquisadores, representantes de associações comunitárias, cooperativas e empresas ligadas ao projeto. Estiveram presentes parceiros da Ufac, ICMBio, Ipam e Veja.

O impacto das mudanças climáticas é um desafio comum em todas as comunidades de atuação do projeto e foi um dos principais temas abordados durante o seminário. Além da borracha, a variação climática também compromete a produção do açaí e do cacau silvestre, cadeias de valor estruturadas pelo Nossabio.

Sobre o tema, o pesquisador Foster Brow informou que, diante da estiagem e do aumento da temperatura, as florestas do Acre não suportariam longos períodos de seca. “Caso isso aconteça, a região se tornará uma savana”, alerta o cientista. Como medida de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, ele sugere que é preciso frear o desmatamento, recuperar áreas degradadas e cumprir as medidas do Acordo de Paris.

Chico Mendes, extrativista da Resex Chico Mendes, preocupa-se com os efeitos das mudanças climáticas na produção de borracha e açaí (Foto: SOS Amazônia)

Conquistas e resultados
Entre os diversos resultados obtidos pelo projeto, o Nossabio conseguiu elaborar o plano de turismo do Parque Estadual do Guajará-Mirim, localizado em Rondônia. O documento é importante para subsidiar a formulação de políticas e atividades voltadas à promoção do ecoturismo na região.

Ainda no âmbito do turismo de base comunitária, em parceria com o Governo do Acre, o projeto realizou benfeitorias na Trilha Chico Mendes, como a construção de redários e banheiros para recepção de turistas e visitantes. Também elaborou um aplicativo de celular, que está em etapa de finalização, com orientações e destaques da trilha.

Para implementar a cadeia de valor dos artefatos de madeira, o Nossabio construiu o Ateliê da Floresta, localizado na Resex Chico Mendes, destinado à fabricação de utensílios, móveis e obras de arte a partir do reaproveitamento de resíduos de madeira encontrados no chão da floresta. “Esse era um sonho do meu pai, Raimundo Mendes, que está se tornando realidade e pode gerar oportunidades de trabalho para os jovens da Resex”, celebra Raiara Mendes, filha do líder extrativista.

Nossabio – territórios conservados
O Nossabio busca fortalecer a gestão e a governança de unidades de conservação com a implantação de cinco cadeias de valor de produtos da sociobiodiversidade: açaí, artefatos de madeira, borracha, cacau silvestre e turismo de base comunitária. Durante três anos, o projeto envolveu diretamente 315 famílias vinculadas a cooperativas e associações extrativistas.

Para alcançar bons resultados em cada uma dessas cadeias, a SOS Amazônia realizou cerca de 40 oficinas de manejo e boas práticas de produção, incluindo a entrega de kits com ferramentas e equipamentos de proteção individual.

O trabalho de assistência técnica e extensão rural e florestal (Aterf) é um dos pilares do projeto Nossabio, porque orienta as atividades de campo aliando conhecimento técnico e tradicional. Foram realizadas cerca de 900 visitas de Aterf, que proporcionaram um espaço de compartilhamento e troca de saberes.

Ao todo, 19 mil hectares de floresta foram manejados em cinco Unidades de Conservação: Reserva Extrativista Chico Mendes, Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional de São Francisco, Florestal Nacional do Macauã (no Acre) e Parque Estadual de Guajará-Mirim (em Rondônia).

Arranjo comercial
Outro diferencial do Nossabio é a articulação em rede entre organizações, empresas e o poder público, para potencializar as ações e otimizar os recursos e, assim, garantir a comercialização do que é produzido no local. Como exemplo, cabe destacar a parceria com a empresária Luisa Abram, que produz chocolate fino a partir de amêndoas de cacau silvestre da Amazônia.

Já a produção de borracha CVP (cernambi virgem prensado) é destinada à Veja, empresa de origem francesa que utiliza a borracha da Amazônia na fabricação de tênis. O Acre é responsável por 74% da produção de borracha utilizada na fabricação dos sapatos. Cada quilo de borracha é comercializado por 14 reais, pagos diretamente à família extrativista.

Desafios
O projeto teve início em 2020 e logo foi preciso suspender as atividades em razão da pandemia de covid 19. Com a superação do período crítico, a equipe técnica reformulou a programação e retomou as atividades de campo no dia 10 de março de 2021, obedecendo os protocolos de prevenção.

Outro desafio está relacionado ao processo de mudanças climáticas, que afetou principalmente a cadeia do cacau silvestre. A variação climática, com extremos de seca e chuva, ocasionou a não germinação dos frutos na estiagem severa e, com a cheia dos rios, a perda dos frutos que ficaram alagados, tendo em vista que o cacau da Amazônia ocorre nas regiões de várzea, à margem dos rios.

Fonte: SOS Amazônia

Compartilhe esta postagem

WhatsApp
Facebook
LinkedIn