*Por Roberto Ravagnani
Entre os diversos equívocos sobre o que diferencia a doação e o trabalho voluntário, duas coisas devem estar claras: o trabalho voluntário é uma doação de tempo, talento e conhecimento. Porém, a doação não é, necessariamente, um trabalho voluntário.
Ficou confuso? Vamos aos conceitos.
O trabalho voluntário não deve estar atrelado à doação de materiais e/ou recursos. Essas iniciativas precisam ser colocadas em compartimentos separados. Digo isso porque não é raro ver organizações atrelando um conceito ao outro, sob o risco de afastar aquelas pessoas que têm vontade, disposição e interesse em fazer um trabalho voluntário, mas não dispõem de recursos ou produtos para serem doados. Do mesmo modo, não se pode classificar alguém como voluntário só porque essa pessoa faz doações.
Outra conversa que ouço com frequência é a que coloca o voluntário como a “salvação” de uma organização – uma espécie de agente milagroso que só aparece em uma situação específica, principalmente em grandes ocorrências, como enchentes, incêndios etc. Costumo chamar essas pessoas de “Voluntário Rambo”.
O “Rambo” é aquele que ouve no noticiário uma tragédia, coloca seu traje camuflado, o facão na cintura, a pá nas costas, entra no jipe e, não importa a distância da ocorrência, ele estará lá, pronto para… atrapalhar. Sim, atrapalhar. Pois sem capacitação ou orientação, não saberá o que fazer, além de se colocar em risco, podendo agravar a situação daqueles que já estão passando por um grande desafio.
Lógico que estou generalizando, pois existem voluntários que contribuem efetivamente com uma ajuda pontual em grandes tragédias. Estou me referindo aos que têm força de vontade, mas não contribuem para a solução do problema, por falta de capacitação, de escuta ou de buscar o responsável da operação para saber se podem ajudar de alguma forma.
Se você está em uma organização social que ainda confunde esses conceitos, entenda a diferença nos papeis do voluntário, doador e salvador. Conhecer as atribuições de cada iniciativa também é um conselho para quem busca uma oportunidade para ajudar uma ONG.
Pode parecer um detalhe, mas sem essas definições em mente, as organizações podem afastar muitos bons candidatos a voluntariado dos seus projetos ou fazer com que o atual time de voluntariados se afaste. Pior: a falta de compreensão dessas diferenças ainda pode provocar o desinteresse de alguns potenciais doadores.
Vamos fazer com que o voluntariado tenha absoluta transparência em tudo que faz para servir de exemplo para muitas outras ações que ainda carecem disso.
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*Roberto Ravagnani palestrante, jornalista (MTB 0084753/SP), radialista (DRT 22.201) e consultor de ESG, Voluntariado e Sustentabilidade.