Pesquisa revela violências contra defensoras da Amazônia

“Somos Vitórias-Régias” é o título do estudo realizado pelo Instituto Igarapé , com 287 mulheres no Brasil, Peru e Colômbia

No mês de agosto, o Instituto Igarapé divulgou os resultados de uma pesquisa intitulada “Somos Vitórias-Régias”, em que traça o perfil e as condições de vida de 287 mulheres que atuam em defesa da Amazônia no Brasil, Peru e Colômbia. O estudo expõe um cenário preocupante: cerca de metade dessas mulheres foi vítima de violência física ou psicológica nos anos de 2021 e 2022.

Mesmo sem necessariamente estarem ligadas a organizações ou movimentos sociais específicos, essas defensoras se dedicam a proteger o bioma amazônico, em muitos casos, sem sequer se reconhecerem como ativistas. Essa falta de identificação com o ativismo aumenta a vulnerabilidade delas a diversos tipos de agressões.

A pesquisa conduzida pela instituição envolveu entrevistas realizadas por 13 defensoras capacitadas, que conversaram com 287 mulheres de diferentes nacionalidades: 131 brasileiras, 72 colombianas e 84 peruanas. Melina Risso, diretora de pesquisa do instituto, define esse grupo como uma “população invisível”, uma vez que muitas estão na linha de frente da defesa da Amazônia sem o devido reconhecimento.

A etnografia dessas mulheres mostra diversidade, variando consideravelmente entre os três países. No Brasil, a maioria é negra, representando 62% das entrevistadas. Na Colômbia, há uma distribuição equitativa entre indígenas, brancas e negras, enquanto no Peru, 99% são indígenas.

A faixa etária predominante entre as defensoras está entre 21 e 45 anos, sendo que muitas têm menos de uma década de atuação em causas relacionadas à preservação ambiental e direitos humanos. Elas podem estar situadas tanto em áreas profundas da floresta quanto em zonas urbanas, vinculadas à luta contra o crime ambiental que assola a região.

As áreas de foco dessas mulheres também variam conforme o país de origem, com brasileiras priorizando a defesa de grupos vulneráveis, colombianas focando em lideranças comunitárias e políticas, e peruanas voltando-se para a proteção da terra e do meio ambiente.

Infelizmente, elas são frequentemente alvo de violências que vão além das físicas e psicológicas, englobando também violências moral, de gênero, racial e relacionada à orientação sexual. Entre as entrevistadas, a violência psicológica foi a mais mencionada, atingindo 38% das brasileiras, 30% das colombianas e 42% das peruanas.

O estudo ainda mostra que a grande parte dessas defensoras não recebe remuneração pelo seu trabalho, um fenômeno que é especialmente marcante no Peru, onde 83% trabalham de forma voluntária. No Brasil esse percentual é de 67%. Além disso, o relatório destacou a tendência à “invisibilização” dessas mulheres, muitas vezes desamparadas pelos seus companheiros e desconsideradas em suas comunidades.

(Agência Pauta Social)

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