Partiu Tech ajuda mulheres a buscarem independência financeira como social media 

Startup usa tecnologia para transformar a realidade de mulheres em situação de vulnerabilidade

Em um mundo onde a tecnologia abre portas para novos horizontes, a startup Partiu Tech surge como um caminho de esperança para mães em situação de vulnerabilidade social.Por meio do WhatsApp, a empresa não apenas ensina essas mulheres a se tornarem uma profissional de social media, como também oferece a possibilidade de trabalharem na área sem sair de casa, usando os seus próprios celulares. 

Com o objetivo de quebrar o ciclo de pobreza, a Partiu Tech também consegue empoderar suas alunas, na medida em que todo novo cliente aumenta a renda dessas mães, tornando-as cada vez mais independentes financeiramente. Para isso, a sócia da startup Cristiane Silva divide seu conhecimento de mais de dez anos em comunicação digital com as integrantes do projeto, até se tornarem aptas ao trabalho de social media. 

No início, o trabalho já rende às mulheres cerca de R$ 500 por mês, num serviço realizado de forma 100% remota, nos momentos de folga em meio às tarefas de cuidado dos filhos. Para o CFO da Partiu Tech, Daniel Moniwa, a meta é que elas consigam receber pelo menos o dobro desse valor. 

Em entrevista ao portal Agência Pauta Social, Daniel e Cristiane detalham a atuação do projeto, explicando como chegam até as mães nas periferias, quem são os atuais clientes, a escolha por um negócio social e planos para o futuro da Partiu Tech.

Pauta Social: Como vocês enxergam a relevância do trabalho da Partiu Tech?

Daniel: Somos uma startup social com o propósito de quebrar o ciclo de pobreza, ajudando mães de periferia a estudar,  se capacitar e obter renda pelo celular. Sem oportunidades, o ciclo que as prende é muito forte. De um modo geral, elas engravidam muito cedo, abandonam a escola e depois não conseguem espaço no mercado de trabalho. Afinal, sem estudo nem experiência de trabalho em nenhuma área, fica difícil encontrar um emprego. O agravante é que as vagas existentes não permitem que essas mulheres conciliem o cuidado das crianças pequenas e a necessidade de trabalhar fora de casa. Essa realidade se repete de mãe para filha, atravessando gerações. Por isso, pensamos que uma das formas de colaborar com essas mulheres seria ajudá-las dentro da realidade que elas vivem. Por que não capacitá-las para conseguirem trabalhar de forma digital sem sair de casa?  É o que fazemos hoje. A Cristiane capacita e treina as meninas pelo WhatsApp para que elas se tornem profissionais de social media, ou seja, trabalhar com redes sociais produzindo conteúdo para clientes. A Partiu Tech se encarrega de buscar clientes, em geral, outras mulheres empreendedoras que necessitam de gestão para suas redes sociais. Com isso, além de gerar renda para as mães em vulnerabilidade social,  nós também conseguimos ajudar micro e pequenas empresas a se posicionarem melhor no mundo digital, cobrando valores bem abaixo do mercado para melhorar a presença e o engajamento desses negócios no Instagram, Facebook, LinkedIn, TikTok e Pinterest. E tudo isso acontece de forma rápida, pois essas mães não têm tempo para estudar, tirar um diploma. É um modo de elas gerarem renda, em um formato totalmente remoto. 

PS: De que maneira vocês as ensinam a mexer com as redes sociais?

Cristiane: Todo o curso de social media é dado, do início ao fim, pelo WhatsApp. A gente recomenda que elas usem pelo menos 15 minutos por dia para as aulas – o tempo de elas lerem e fazerem alguma atividade. Sempre há uma avaliação para verificar a evolução dessa aprendizagem e, ao final de cada módulo, tem prova, mas nada muito complexo. Na prática, elas precisam abrir o WhatsApp, abrir o Instagram e entender para que funciona a ferramenta que está sendo estudada naquele momento. Nós as capacitamos, como o Daniel já disse, para serem social media, capazes de administrar e produzir conteúdo para pequenas e médias empresas. O curso dura cerca de 1 mês, com três encontros via whatsapp ou Google Meet por semana, ao vivo, para tirar dúvidas. Quando terminam o curso, as melhores alunas são chamadas para trabalhar com os clientes da Partiu Tech. Infelizmente, nem todas ficam, pois é um funil. Mesmo atendendo seus primeiros clientes, as meninas continuam sendo capacitadas cada vez mais. Algumas já vão chegar ao ponto de ajudar na formação da próxima turma, tirando dúvidas das novas alunas. No fim, elas se empoderam, crescem e conseguem ajudar nas despesas da casa. É uma capacitação muito intensa que, na prática, é capaz de mudar o dia a dia delas. Descobrimos que é possível transformar vidas.

PS: Como é a rotina dessas mães? Como conciliam suas vidas com o curso? 

Cristiane: Elas trabalham em casa, todas têm no mínimo dois filhos, então o tempo delas é limitado. Elas são contratadas como freelancers e trabalham sempre no horário livre delas, ou é de manhã, ou é à tarde, ou é à noite, ou é de madrugada, ou final de semana, quando elas podem trabalhar pelo celular. Nós já metrificamos isso, elas trabalham em torno de uma hora por dia no horário delas. Elas cuidam de filho, cuidam de marido, cuidam de casa, elas saem. Então é no horário delas, mas tem prazo para entregar as produções. Todo dia eu converso com elas pelo WhatsApp: elas fazem perguntas, eu dou aula ao vivo, a gente entrega, e aprova com os clientes. Quando está aprovado, elas publicam nas redes.

PS: Como elas ficam sabendo da existência do curso? 

Cristiane: Temos parceria com alguns projetos e organizações sociais e, além disso, o boca a boca funciona muito bem nas comunidades. Elas se inscrevem para entrar no curso e, quando entram, a maioria não acredita que se trata de uma formação gratuita com reais chances de geração de renda. Os próprios companheiros ou familiares muitas vezes não acreditam. Mas quando o Pix começa a cair na conta delas, eles passam a acreditar no nosso projeto. As amigas, as vizinhas, muitas mulheres começam a se interessar e, com isso, já temos até uma lista de espera de novas alunas.

PS: Quem são as clientes da startup? 

Daniel: Normalmente são mulheres empreendedoras, de pequenas e médias empresas de diversas vertentes. Temos desde uma artista em Portugal até uma clínica de psicologia. Nossas clientes são mulheres que acabam se identificando com o propósito da Partiu Tech. Posso dizer que atendemos a todos os segmentos, mas o perfil predominante são as mulheres empreendedoras mesmo.

Cristiane: Os nossos primeiros clientes foram nossos amigos. Comentávamos o que fazíamos para uns, que falam para outros e, aos poucos, várias pessoas procuram a gente. Já trabalho com isso há algum tempo, então, temos clientes antigos que nos procuraram. Não expandimos muito ainda, mas a nossa intenção é ampliar bastante em 2024.

PS: Qual a renda média que o curso gera para essas mulheres? 

Daniel: Hoje as mulheres estão ganhando, em média, R$ 500 por mês. A nossa meta, na verdade, é que cada uma delas ganhe pelo menos R$ 1.000 por mês. Nosso objetivo é ajudar ao máximo na mudança de realidade delas, já que há casos de elas se tornarem a principal fonte de renda da família. Muitas mães de periferia não contam com a ajuda do pai dos seus filhos ou, quando eles estão juntos, são trabalhadores que fazem “bicos”, como pedreiros, vendedores e outras atividades informais. Isso quando não estão sem ocupação, desempregados.

PS: Como o projeto se mantém financeiramente? 

Daniel: A gente começou com capital próprio, mas hoje a empresa se paga sozinha. As mensalidades dos clientes pagam principalmente o serviço das meninas na produção, que é a principal despesa. Na verdade, a Partiu Tech só precisou de um empurrão inicial e agora está andando sozinha. A ideia é, futuramente, buscar recursos por meio de fundações, por exemplo, para que a gente consiga acelerar o processo de arrecadação. Temos um lucro bem pequeno, mas a gente tem um resultado positivo.

PS: Como é cobrado o serviço prestado pela Partiu Tech? 

Cristiane: Então, nós cobramos de 20% a 25% comparado ao que o mercado cobra, ou seja, fica bem acessível para as clientes. Do valor cobrado, perto de 60% vai para as meninas e o restante paga nossas despesas fixas. Para todo cliente, explicamos como funciona o processo. Elaboramos a estratégia e, quando está tudo pronto, tem início o trabalho operacional. Aí é quando a cliente conhece as meninas. Cada projeto tem um valor diferente, mas como exemplo de mensalidade, podemos falar em R$ 599, para uma postagem três vezes por semana. Se a cliente deseja mais serviços, esse valor pode aumentar para R$ 899. O último valor é de R$1.000 por mês, com postagens sete dias por semana. Não fechamos pacotes porque o atendimento é bem personalizado, depende muito também da rede social que será trabalhada. Por exemplo, às vezes é LinkedIn, às vezes é Instagram, ou Pinterest. Pode ter também mídia paga ou não, às vezes é um site, um blog, uma loja virtual, depende muito.

PS: Quantas mulheres já foram beneficiadas? 

Cristiane: Até agora já formamos 20 meninas, mas a meta para 2024 é de pelo menos 40. novas profissionais de social media. Cinco delas trabalham conosco atualmente. Muitas não conseguem continuar devido a problemas familiares ou mesmo porque conseguiram trabalhar fora de casa em empregos com carteira assinada. Mas esses números variam bastante, é um funil mesmo. 

PS: Existe vínculo empregatício entre elas e a Partiu Tech? 

Cristiane: Não, pois a ideia é que elas sejam freelancers, pegando serviços quando podem, ganhando por produção. De acordo com o que vão entregando, vão juntando dinheiro. Mas nós sempre procuramos apoiá-las para que elas não desistam, pois é um modo de receberem uma renda extra. Futuramente, vamos incentivá-las a virarem MEI, seguindo o modelo de profissionais autônomas de social media das grandes agências. Essa também é uma maneira de inseri-las no sistema formal de trabalho.  

PS: Que mudanças já são visíveis na realidade dessas jovens mães? 

Cristiane: São muitas. Todas, por exemplo, já estão com o celular novo, pois tiveram condições de pagar parcelas e adquirir um aparelho de última geração. Elas pagam a internet, pois desse modo conseguem trabalhar quando vão ao posto de saúde, ou olham as crianças em casa, durante o trajeto do ônibus e do trem. Estão com mais esperança de uma vida melhor e, por que não, empreender um dia. Existe sim uma mudança bem significativa. Algumas usaram o dinheiro para reformar a casa ou realizaram o sonho de fazer uma festa de aniversário para os filhos. Mas o que impressiona mesmo é o quanto elas passaram a se valorizar mais como mães e mulheres. 

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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