Oxfam revela que 1% mais rico polui igual aos 66% da população mais pobre

Somente as emissões do 1% mais rico do mundo ocorridas em 2019, são suficientes para causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor entre 2020 e 2100

Em 2019, o 1% mais rico da população mundial produziu tanta poluição quanto cerca de 5 bilhões de pessoas (equivalente aos dois terços mais pobres), revela o relatório Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%, lançado nesta segunda-feira (20/11) pela Oxfam.  O lançamento do estudo ocorre às vésperas da Cúpula Climática da ONU (COP 28) em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, que tem como um dos temas centrais a necessidade de manter a meta de 1,5°C no aumento da temperatura global para evitar um colapso climático.

O relatório “Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%” foi elaborado com dados do Stockholm Environment Institute – SEI (Instituto Ambiental de Estocolmo) e avalia os dados nacionais de emissões de consumo para 196 países, entre 1990 e 2019, do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono) – que cobre quase 99% das emissões globais. Os dados de renda nacional e os números populacionais foram obtidos do Penn World Table (PWT) e do Banco Mundial.  

O documento mostra o contraste entre a pegada de carbono do 1% mais rico – que possui muitos investimentos em indústrias poluentes e cujos estilos de vida resultam em grandes emissões de CO2, – e da maior parte da população mundial.  O relatório atesta que o 1% mais rico foi responsável por 16% das emissões globais de consumo em 2019 – mais do que todas as emissões de automóveis e transportes rodoviários. Já os 10% mais ricos responderam por metade das emissões. 

Outros dados importantes do relatório são: levaria cerca de 1.500 anos para uma pessoa que está entre os 99% da população no mundo produzir tanto CO2 quanto os bilionários mais ricos produzem em um ano; e, todos os anos, as emissões do 1% mais rico anulam a economia de carbono proveniente de quase um milhão de turbinas eólicas.

“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São as bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. 

“Durante anos a sociedade e a academia lutam para acabar com a era dos combustíveis fósseis para salvar milhões de vidas e nosso planeta. Está mais nítido do que nunca que isso será impossível enquanto houver riqueza extrema no mundo e enquanto os governos não cumprirem seus compromissos com uma sociedade sustentável”, complementa Maia.

O colapso climático e as desigualdades têm relação direta. O impacto da crise climática é desigual, atingindo mais pessoas que vivem na pobreza, mulheres e meninas, pessoas negras, comunidades indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais nos países do Sul Global.

A Oxfam calcula que um imposto de 60% sobre a renda do 1% mais rico do mundo reduziria as emissões globais e arrecadaria US$ 6,4 trilhões que poderiam ser utilizados para o enfrentamento da crise climática, financiando, entre outros, a transição energética a preparação para países e regiões que têm grande parte de sua população afetada.

“É preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente. Essa é uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades. E a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, finaliza Katia Maia.

Recomendações da Oxfam colocam os 99% – e a ação governamental dinâmica e ambiciosa – no comando para garantir três coisas:

Aumento radical da igualdade- Os governos devem implementar políticas comprovadas para reduzir drasticamente a desigualdade e o fosso entre os mais ricos e o restante da população. Sociedades mais igualitárias são capazes de gerir os enormes riscos e impactos das condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz e justa. 

Uma transição rápida e justa para longe dos combustíveis fósseis– Os governos devem implementar uma nova onda de impostos sobre as empresas e os super-ricos que lucraram com a pilhagem do nosso mundo, para reduzir as emissões de forma significativa e urgente e para financiar a transição.

Um novo propósito para uma nova era– O atual sistema econômico, orientado para gerar uma riqueza cada vez maior para os já ricos nos está levando ao precipício.  As pessoas e os seus governos devem voltar a ser responsáveis pelo seu destino. As nossas economias devem ser propositalmente redesenhadas e reimaginadas.

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