Oxfam Brasil é otimista com relação ao futuro dos direitos humanos

A organização trabalha para construir um Brasil com mais justiça e menos desigualdades

Só em 2023, mais de 3 mil pessoas foram resgatadas no país em situações análogas à escravidão, de acordo com dados da Oxfam Brasil. A organização integra o movimento pelo processo de devida diligência em direitos humanos – termo utilizado quando o assunto é governança empresarial alinhada às obrigações e compromissos de proteção desses direitos em toda a cadeia produtiva, principalmente, no mercado ligado ao agronegócio.

“É papel das empresas, entender de onde vem os produtos, sua cadeia produtiva. Nesse contexto, o movimento de direitos humanos, já há quase 20 anos, vem discutindo a responsabilidade desse processo dentro de um marco que a gente chama de devida diligência. Basicamente consiste na ação da empresa, o que ela deveria fazer para garantir que não haja violação de direitos humanos nos seus produtos, que vêm de outros países. E a gente trabalha muito nesse marco, porque o Brasil é um grande exportador de todo tipo de commodities agrícolas que a gente pode imaginar”, pontua o coordenador de Justiça Rural e Desenvolvimento da Oxfam Brasil, Gustavo Ferroni.

Na luta pela universalidade dos direitos humanos, Ferroni se mostra otimista, pensando nas próximas gerações: “Ano após ano, as gerações vão mudando e certos valores vão se consolidando. Então, por mais que a gente tenha retrocesso e ameaça, eu acho que é importante a gente dar um passo atrás e olhar que certas coisas não são mais aceitáveis. Não tem como mais um trabalhador dormir no chão, beber água do cavalo. As pessoas agora falam em salário digno, não mais em salário mínimo”.

A Oxfam é uma organização internacional voltada para o combate das desigualdades, desenvolvendo estudos que demonstram as diferenças entre os mais pobres e os donos de grandes fortunas. No Brasil, a atuação da ONG começou há 50 anos, por meio de parceiros, segundo Gustavo Ferroni. 

“Começou um esforço especial nos países BRICS, que são economias importantes, países politicamente importantes. Então surgiu a Oxfam Índia, Oxfam África do Sul, e a Oxfam Brasil. Nesse contexto, aconteceu um grande namoro da Oxfam com diferentes organizações da sociedade civil brasileira para ver se elas virariam Oxfam, desde o IBASE, Vitae Civiles, Instituto Polis, mas a ideia não se materializou, então foi decidido criar uma Oxfam com o conselho brasileiro e tudo, começando do zero”.

No que diz respeito às atividades da Oxfam Brasil, Jorge Henrique Cordeiro, coordenador de Comunicação Institucional da organização, reflete sobre o contexto atual do capitalismo e suas contradições.

“O papel da Oxfam é ajudar a impedir a concentração extrema de riqueza na mão de poucos. E aí tem vários mecanismos: de tributação, de regulação, de reinvenção do Estado, reinvenção da atuação das corporações, intervenção do Estado rever, por exemplo, essa onda de austeridade, privatização, etc. A riqueza vem basicamente, hoje, de duas formas: herança e de ativos financeiros, ou seja, bolsa de valores. Não existe trabalho por parte dos indivíduos que se beneficiam desses dois meios. Então o objetivo é valorizar o trabalho, não a riqueza. Recompensar o trabalho, não a riqueza”, afirma Cordeiro.

A Oxfam Brasil atua com foco em quatro áreas temáticas bem definidas: Justiça Rural e Desenvolvimento, Justiça Social e Econômica, Justiça Racial e de Gênero e Justiça Climática e Amazônia, tendo como missão principal a luta contra as desigualdades. Com relação à Justiça Rural, especialidade de Ferroni dentro da organização, ele ressalta os desafios enfrentados pelas populações rurais e o papel da ONG na busca por melhorias.

“No Brasil e no mundo, a pobreza ainda é muito rural. A Oxfam Brasil olha muito a situação dos trabalhadores rurais e a questão da terra como dois grandes temas porque são temáticas historicamente problemáticas. Tivemos 400 anos de escravidão e, hoje, o Brasil continua sendo um campeão da escravidão moderna. O mundo rural brasileiro gera muita riqueza para as pessoas que mexem com o agronegócio, mas, ao mesmo tempo, algumas das populações estão na pior situação que tem: com um salário que não dá pra viver, muita pobreza e fome. Então, essas são contradições muito grandes e que condicionam a desigualdade do país como um todo”.

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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