“O 3º Setor sai na frente ao reconhecer mulheres em lugares de liderança”, diz gerente da Sefras

Mulheres ocupam 51% dos cargos de liderança no Terceiro Setor e representam 62% do voluntariado nas organizações sem fins lucrativos

Um estudo realizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) constatou que 51% das organizações ligadas ao GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) têm mulheres em posições de liderança no Terceiro Setor. No segundo setor, apenas 38% delas ocupam esses cargos no Brasil, segundo levantamento feito pela empresa Grant Thornton, analisando 250 empresas brasileiras.

Elas são maioria nas organizações sem fins lucrativos, ocupando 65% dos postos de trabalho, segundo o Ipea, também doam mais dinheiro – 41% contra 32% dos homens – e representam 62% do voluntariado no setor de impacto socioambiental, de acordo com PNAD/ IBGE de 2019.

“O Terceiro Setor sai na frente quando reconhece que as mulheres podem estar em lugares de liderança como os homens”, afirma Rosângela Pezoti, assistente social de formação e atual gerente de programas do Sefras – Associação Social Franciscana, organização humanitária que defende os direitos de populações extremamente vulneráveis.

Rosângela analisa que as mulheres ocupam culturalmente e historicamente o lugar do cuidado, mas observa que uma mudança tem sido desenhada dentro do Terceiro Setor, pois cada vez mais mulheres ocupam cargos de importantes tomadas de decisão e influência. Confira a conversa sobre o tema com o portal Agência Pauta Social:

Pauta Social: Qual você acha que é a motivação que leva as mulheres a atuarem no Terceiro Setor?

Rosângela Pezoti: Historicamente, somos culturalmente formadas para ocupar esse lugar. Por isso que há tantas profissões predominantemente femininas, como a minha, por exemplo. Acho que, dos últimos anos para cá, não estamos só por conta do cuidado, também temos uma formação, a gente vem sendo capacitada também, temos nos formado para ocupar lugares de liderança e de decisão.

Imagino que nossa tendência ao cuidado nos ajuda a estar nesses lugares. Hoje, o Terceiro Setor é um lugar que as mulheres também ocupam como um espaço de decisão, onde conseguem colocar sua criatividade, potencialidade, seu olhar feminino sobre questões estruturais e de cuidado. Elas conseguem vislumbrar soluções para tantos problemas que temos com criatividade. Existe uma mudança em curso que iniciou há pouco tempo, que tem nos colocado hoje em outro lugar, que não é só dar atenção direta às pessoas.

PS: Quais serão as ações promovidas pelo Sefras no mês das mulheres?

Rosângela: No Sefras, há trabalhos direcionados apenas para a questão feminina, principalmente no combate à violência contra a mulher. Um exemplo é o projeto Respeita As Minas, destinado às adolescentes. Neste ano, vamos pautar a questão da violência de novo porque o Brasil tem números altíssimos de feminicídio e registrou um aumento expressivo da violência contra a mulher. Estamos discutindo a necessidade de combater a violência contra as mulheres, incluindo desde meninas de 6 anos às idosas de 90 anos. 

Participamos das manifestações e também há alguns momentos de celebração, de festejar também com essas mulheres, como um momento de alegria, de estarmos juntas. Temos muitas trabalhadoras e voluntárias, a grande maioria das nossas equipes é composta por  mulheres, também é um momento em que unimos as trabalhadoras, fazemos uma reflexão e celebramos juntas o Dia das Mulheres. 

PS: Como você imagina o futuro e as perspectivas das mulheres que atuam no Terceiro Setor?

Rosângela: Penso que vamos construir cada vez mais possibilidades de liderar processos, de construir trabalhos que sejam relevantes, transformadores, e acredito muito que existirá uma abertura cada vez maior para isso. Precisamos nos preparar para esse lugar porque também nos são exigidas muitas competências que, às vezes, nesse lugar de cuidado, não temos ou não vamos atrás. 

Acho que existe um duplo lugar e papel. Por um lado, as mulheres vão se preparar cada vez mais para esse lugar de liderança no Terceiro Setor e, por outro, acredito que o Terceiro Setor irá abrir mais espaço para a liderança das mulheres. Acho que esse futuro já está desenhado e muito próximo porque é o lugar que fomos construindo, cimentando uma trajetória que hoje nos colocou onde estamos.

Para conhecer o trabalho do Sefras, acesse: https://www.sefras.org.br/.

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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