Mulheres negras são mais expostas ao racismo ambiental

Crédito: Antonio Cruz /Ag Brasil

Tema faz parte das apresentações do Festival Latinidades, em Brasília

As mulheres quilombolas são mais vulnerabilizadas aos efeitos das mudanças climáticas e da falta de políticas públicas. A opinião é da secretária-executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Selma Dealdina. A indiferença com as comunidades tradicionais pode ser chamada de “racismo ambiental” – tema abordado nesta sexta-feira (7/07) no Festival Latinidades, no Museu da República, em Brasília.

Segundo Selma, é possível constatar o racismo ambiental nas demonstrações de injustiças nas proximidades de comunidades dos quilombolas. Nesse sentido, as comunidades quilombolas buscam – a partir do exemplo das pessoas mais velhas – explicar diariamente a necessidade da preservação da natureza. “A gente tem que tentar sobreviver e enfrentar a invasão do agrotóxico, do desmatamento, das queimadas…”. Isso porque as comunidades que vivem da agricultura familiar devem assimilar o cuidado como prática viva. Segundo o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há 6,5 mil comunidades quilombolas em 24 estados do país.

“Por que alguém coloca um aterro sanitário no território quilombola? Ou uma linha de energia elétrica sem beneficiar a comunidade? Ninguém coloca um gasoduto cortando a fazenda de um grande fazendeiro ou em um latifúndio brasileiro. Isso é racismo”, exemplifica.

Resistência ambiental

Os grupos quilombolas, diz Selma, são espaços de resistência. “Na minha comunidade (na cidade de São Mateus, no Espírito Santo), o rio secou. Minha família não parou de plantar e a água voltou a aparecer.” Ela contextualiza que as mudanças climáticas afastaram os mais jovens do trabalho no campo, inclusive com o avanço das plantações de eucalipto nas cercanias de comunidades quilombolas.

“Entendo que a gente precisa discutir como incentivar os jovens a ficar na roça e com possibilidade de geração de emprego e renda. Esse é o nosso grande desafio”, opina.

O evento, que conta com o apoio da Empresa Brasil de Comunicação – EBC, também ocorreu o pré-lançamento da campanha da Oxfam Brasil “Onde tem mulher, tem floresta em pé”. A coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da organização, Tauá Pires, explicou que a responsabilidade das mulheres nas comunidades tradicionais excede o campo do trabalho. 

“As mulheres têm uma liderança fundamental, não somente na questão do trato da terra, mas na dinâmica social, já que uma comunidade quilombola se organiza de uma forma diferente do que ocorre em centros urbanos”, diz. “Na lógica comunitária, a terra não pertence a uma pessoa, mas às famílias.”

Para a pesquisadora, o que está em jogo não é só o desmatamento ou a derrubada da floresta. “Mas é também como os recursos naturais são preservados e  utilizados para o bem social”, observa. 

Nesse sentido, o racismo ambiental é um fato. “Quando a gente observa as pessoas que moram nesses territórios, são em sua maioria não brancas. A gente está falando de comunidades tradicionais com maioria negra e mais atingidas pelas emergências, como enchentes e secas”, enfatiza.

Tauá acrescentou ainda que são as mulheres que assumem maior responsabilidade comunitária e familiar porque cuidam, por exemplo, dos mais velhos e das crianças. “Então o racismo acaba atingindo de maneira diferente as mulheres.”

“Os homens saem para as grandes cidades para trabalhar, enquanto que as mulheres ficam para cuidar da roça. São mais vulneráveis aos efeitos das mudanças de clima. Ainda são invisibilizadas no papel de quem deve cuidar da família e do campo”, afirma.

Para Tauá, o Latinidades é uma realização que garante discussão de visibilidade das demandas das mulheres negras. “É um debate importante do clima ao racismo ambiental”, avalia. 

(Agência Pauta Social, com informações da Agência Brasil)

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