Instituto surge com proposta de tropicalizar o ESG no Brasil

O Instituto Brasileiro de ESG tem planos para desenvolver pesquisas, relatórios e eventos relacionados à Sustentabilidade

O Instituto Brasileiro de ESG, criado no ano passado, é uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de abrigar informações e ser uma referência para as empresas no Brasil sobre a prática das 3 famosas letrinhas da sustentabilidade: Environmental, Social e Governance (ou Meio Ambiente, Social e Governança – na tradução para o português).

Em entrevista ao portal Agência Pauta Social, a diretora-executiva do IBESG, Fernanda Dutra, pesquisadora e mestre em Direito Ambiental pela PUC-SP; e a diretora de operações, Juliana Martins, advogada e mestre em Direito Ambiental pela PUC-SP, explicaram o papel e objetivos futuros da organização. Confira a seguir:

Pauta Social: Como nasceu a ideia do IBESG?

Fernanda:  O ponto de partida pode ter sido meu encontro com a Juliana, quando éramos alunas no mestrado na PUC, em Direito Ambiental, quando a gente se deparou com a sigla ESG. É claro que, antes da pós-graduação, nas nossas atividades, a gente já vivenciava essa questão da sustentabilidade nas letras E e S, principalmente, no campo da governança socioambiental. Mas foi durante os estudos e em meio a tantos artigos para a pós-graduação, é que o ESG começou a ficar mais frequente nas nossas pesquisas. Essa nova roupagem nos chamou muita atenção! Era uma nova forma de o empresário enxergar seu papel na sociedade, de ele entender que o mundo precisa da sua participação para buscar soluções nas questões ambiental e social. Depois de um tempo maturando a ideia, resolvemos criar o IBESG, com a ideia de unir todos os profissionais, da iniciativa privada e das universidades, além das pessoas que querem saber o que é essa complexidade do E, do S e do G.

Juliana: Sim, o nosso objetivo é se transformar em um hub, uma comunidade, onde você terá informações consolidadas, uma livraria com títulos voltados para o tema, grupos de estudo, revista com artigos relevantes, espaço para troca de ideias. Além de efetivar direitos como entidade sem fins lucrativos, o IBESG também quer dar uma cara para esse tema no Brasil. Precisamos tropicalizar o ESG porque nossas desigualdades e nossos desafios são diferentes dos outros países. 

PS: O que seria a tropicalização do ESG? 

Juliana: É importante lembrar que o ESG é uma sigla que nasceu em Davos (Suíça) e ganhou uma repercussão gigante após ser adotada pelo mercado financeiro. As instituições financeiras e o Fórum Econômico de Davos começam a olhar para essa sigla e a falar da necessidade de as empresas fazerem relatórios, para que seus investidores e públicos interessados pudessem conhecê-las. Os bancos precisam saber o que elas estavam fazendo nessas três áreas e seria interessante que todas as companhias adotassem uma linguagem comum. Então, o nascimento do ESG está atrelado a essa necessidade do setor financeiro internacional. Depois que a sigla saiu da bolha econômica dos Estados Unidos e  Europa, ela foi se disseminando para outros ramos da economia mundo afora. Quando o ESG chegou ao Brasil, nós, pesquisadoras, começamos a nos perguntar como usá-la se não tínhamos a mesma realidade do Fórum Econômico de Davos. A nossa realidade é outra. Como desenvolver a agenda ESG nas empresas brasileiras? Aqui no Brasil, o número de mulheres, de negras e negros, da comunidade LGBTQIA+, tudo é diferente. Temos a nossa própria diversidade, com uma complexidade própria. Os movimentos sociais aqui são diferentes dos de outros lugares do mundo. Somos um país continental, temos a maior biodiversidade do mundo. Aliás, se tem alguém para assumir o protagonismo da letra A, na defesa de direitos socioambientais, é o Brasil. Precisamos ser respeitados dessa maneira. 

PS: Vocês buscaram inspiração em alguma outra instituição de ESG no exterior? 

Fernanda: Temos um produto dentro do Instituto que se chama Mulheres em ESG, e a ideia desse grupo veio de Portugal. É um movimento cívico português criado por uma brasileira, advogada, que trabalha na indústria de energia naquele país. Ela criou o Mulheres em ESG em Portugal, pensando no mercado de trabalho de lá, onde pouco se vê mulheres no cargo de diretoria, principalmente no setor de energia. O objetivo era dar visibilidade às profissionais que atuam na questão ESG local. Aqui no Brasil, queremos adaptar essa iniciativa para a nossa realidade, adaptando o Mulheres em ESG para um movimento itinerante. A ideia é fazer eventos em vários lugares do Brasil, reunindo predominantemente mulheres, de vários setores e empresas. Vamos criar um portal para que elas possam ter os seus currículos disponíveis, disponibilizados para o mercado, como uma grande ação de networking

PS: Como serão feitas as pesquisas dentro do IBESG?

Fernanda: Criamos um conselho consultivo para atuar totalmente voltado à questão acadêmica. Em paralelo, estamos formando um grupo de pesquisa a partir de professores, em parcerias com as universidades, principalmente aquelas mais adiantadas na pauta ESG. Queremos realmente criar bons conteúdos. 

Juliana: Também vamos lançar uma revista em breve, e essas páginas serão um depositório fiel de todas as informações, artigos, conversas, do que está acontecendo sobre ESG hoje no Brasil e no mundo.

PS: Qual o maior desafio da agenda ESG atualmente? 

Juliana: Acho que o Brasil precisa entender, de fato, o que é ESG. Isso porque, tanto para as empresas quanto para as pessoas, o conceito ainda não ficou tão unânime como deveria estar. Ainda é algo um pouco nebuloso no Brasil. O principal desafio, então, é disseminar as informações e, a partir daí, disseminar a cultura do ESG nas organizações, nas empresas, no setor público.

Fernanda: Por isso, acreditamos que, quanto mais conversas houver sobre isso, quanto mais debates, mais produção de conteúdo, mais exposição sobre o assunto, todo mundo sai ganhando. O nosso convite é para que cada um, dentro da sua esfera, trabalho, atividade, seja a pessoa um empresário, trabalhador, aposentado, criança, adolescente, que toda a sociedade tenha um olhar por um mundo melhor. A gente acredita – e, além de acreditar, nós temos dados científicos mostrando isso – que o ESG é o nosso presente e, ainda mais, o nosso futuro.

PS: Quais os próximos passos do Instituto?

Fernanda: Vamos construir espaços de comunicação em várias vertentes, a partir do nosso site. Haverá uma área para contabilidade, outra para a comunidade financeira, uma para quem está focado em cooperativas, tem o pessoal do Direito, além de um braço só de inovação para as startups. Começamos a divulgar o IBESG há pouco tempo. Então, as novidades virão em 2024 mesmo. Haverá eventos e fóruns para nos aproximar mais das pessoas e mostrar o instituto, além de enriquecer cada vez mais os conteúdos com a nova revista e fortalecer o grupo de pesquisa e estudos. 

Juliana: Acreditamos que o ESG é uma construção, é para o resto da vida. É uma mudança de comportamento e de paradigma. As questões internas das empresas, a questão cultural, toda essa transformação precisa de um respaldo de e uma segurança. Vamos transformar o Instituto em um lugar seguro, que tenha várias informações confiáveis para que as pessoas se sintam confortáveis em dar início aos conhecimentos em ESG, ou dar continuidade. Ou, pelo menos, para buscar informação e tirar a curiosidade.

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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