Enem mais desigual requer atenção dos gestores

Quase 30% dos estudantes que concluíram o ensino médio na rede pública tiveram notas “nada competitivas” para ingressar nos cursos superiores mais disputados

Um estudo apoiado pelo Instituto Unibanco e realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais (LaPOpE) e pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED) – ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –

constatou que a pandemia afetou mais os alunos pretos, pardos e indígenas na hora de disputarem uma vaga para o ensino superior.

A pesquisa analisou o desempenho no Enem dos estudantes de redes públicas e privadas, antes e depois da pandemia. Os resultados mostram que, de maneira geral, a desigualdade de desempenho entre a escola pública e a particular se manteve em patamares altos, mas, quando os fatores racial e social são levados em consideração, ela aumenta.

Os pesquisadores Flavio Carvalhaes, Melina Klitzke, Daniel Castro e Tiago Bartholo analisaram os microdados do Censo Escolar e do Enem (Inep/MEC) entre 2013 e 2021. Os números revelam que os jovens de baixo nível socioeconômico estão não apenas participando menos do Exame Nacional, como também obtêm piores resultados nesta prova. Dos estudantes concluintes do ensino médio na rede pública, 28% tiveram notas consideradas “nada competitivas” e 18% médias “muito competitivas”, ou seja, que lhes permitem escolher entre mais cursos e buscar vagas em áreas mais disputadas.

Ações que diminuem as desigualdades

O Proerer (Programa de Educação para Relações Étnico-Raciais), instituído por decreto em maio deste ano pelo governo do Espírito Santo, é um trabalho contínuo de formação e debates voltado para as populações de baixa renda e racializadas.

Outra iniciativa importante é o programa Raízes, que busca a formação étnico-racial de professores, e produz materiais para uso em sala de aula. Os materiais de auxílio trazem indicações de leitura, orientações sobre como tratar os temas em sala de aula, um glossário e uma lista de expressões racistas a serem evitadas. 

Além deles, em Porteiras (CE), a equipe pedagógica da Escola de Ensino Médio Aristarco Cardoso, após dois anos de aulas remotas, percebeu que seria preciso criar estratégias para suprir os conhecimentos não adquiridos naquele momento.

A primeira batalha foi motivar os alunos a participar da avaliação diagnóstica realizada semestralmente em toda a rede estadual, a fim de saber o nível das turmas. Com os resultados em mãos, a escola traçou metas. Entre elas, valorizar as conquistas dos que alcançaram nível de aprendizagem desejável, com a entrega de certificados em “momentos solenes” e na presença das famílias, cafés com os professores ou participação em atividades de lazer e cultura.

É o que a coordenadora Gizelia Amaro Ribeiro Ferreira chama de “apropriação dos resultados”, destacando e premiando as vitórias. “A gente começou a valorizar os alunos que estavam subindo de nível, e isso fez com que, na hora da avaliação diagnóstica, os demais alunos se interessassem em fazer a prova de modo bem responsável, pois sabiam que a escola iria valorizar.”

Além da dificuldade na aprendizagem, a saúde mental dos alunos foi muito afetada, por isso a escola criou oficinas de acolhimento para lidar com os transtornos relatados. “No começo do ano, o que a gente levava de alunos para o hospital com crise de ansiedade. Hoje digo que reduziu 90%. Todos os dias eram quatro, cinco, seis alunos com crises de ansiedade. Alguns conseguíamos atender na escola, com as oficinas de escuta. Mas alguns não conseguiam permanecer em sala depois de dois anos em casa. Foi complexo”, conta Gizelia.

O link para acessar o estudo na íntegra é:  https://www.institutounibanco.org.br/boletim/enem-mais-desigual-requer-atencao-dos-gestores/

Com informações do Instituto Unibanco.

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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