Em 2024, a sociedade civil deve se atentar às eleições municipais e focar nas lutas socioambiental e de combate às desigualdades 

Em entrevista ao redeGIFE, o membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), José Moroni, avaliou a conjuntura de 2024 para as OSCs

São muitos os compromissos do Brasil em 2024. O país se prepara para presidir o grupo das maiores economias do mundo, o G20; eleger novos prefeitos e vereadores; receber a COP30 no próximo ano. São agendas que influenciam a atuação da sociedade civil organizada.

Para entender quais focos de atuação devem predominar entre as OSCs brasileiras este ano, o GIFE conversou com José Antônio Moroni, integrante do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Ele atua há mais de 40 anos em organizações não-governamentais e movimentos populares. 

GIFE: Quais agendas da sociedade civil brasileira devem predominar em 2024?

José Moroni: Nos últimos anos, influenciadas pela conjuntura nacional e internacional, as organizações estão construindo estratégias que congregam várias agendas, como a socioambiental. Outras agendas continuam sendo a defesa da democracia, e o enfrentamento de todas as formas de desigualdades. 

Como o ano eleitoral pode influenciar nas mobilizações da sociedade civil organizada no decorrer do ano?

J.M.: As eleições municipais mexem muito com as organizações, pois dialogam mais com os problemas concretos da vida do povo. Algumas organizações debatem um programa e constroem candidaturas capazes de representá-lo. Hoje um dos grandes problemas nacionais é a inviabilidade da vida digna nas cidades. Esta agenda é central em 2024.

De acordo com dados do último Censo GIFE, a principal dificuldade mencionada por investidores sociais ao apoiar as OSCs tem a ver com desafios no monitoramento e avaliação das iniciativas. Como superar esse obstáculo em 2024? 

J.M.: Não é fácil captar a mudança que o investimento provocou na vida de uma comunidade. Monitoramento como a avaliação partem de um referencial que deve ser acordado entre quem “investe”, a organização e a comunidade. Esse tripé deve pactuar como avaliar o impacto e o que é o impacto. Nem sempre o impacto é material. Lembro da “formatura” de um curso para catadores, uma senhora de 75 anos me disse: ‘este é o meu primeiro diploma da vida. Vou pendurar na parede para todo mundo ver. Com o curso eu aprendi que posso aprender’. Como captar isso na avaliação? Se isso não for construído com a comunidade, corremos o risco de definir como impacto aquilo que presumimos que a vida das pessoas deveria ser. 

Ainda segundo dados do Censo GIFE, em 2022 o apoio institucional foi oferecido por 71% das organizações que apoiaram OSCs, um aumento de 13%. Porém, ainda é o tipo de apoio menos praticado por investidores sociais. Qual a importância de aumentar esses números em 2024? 

J.M.: Esta é a melhor modalidade de financiamento. Você não apoia um projeto, mas uma organização, reconhecida no seu trabalho, para fazer o que já faz. O projeto sempre vai ser pontual limitado. Outro aspecto é o custo financeiro da gestão de projetos. Muitas vezes se tem uma inversão, onde em termos de tempo e de gasto de recursos, se concentra mais na atividade meio e não na finalidade do projeto. Com o recurso institucional isso é amenizado, pois vai estar diluído no conjunto da gestão da organização. 

Fonte: GIFE

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