Dois passos para frente e um para trás

Por Roberto Ravagnani (*)

Todos que trabalham com o voluntariado e querem ver essa atividade crescer e melhorar no Brasil gostam de receber o apoio dos mais variados segmentos, principalmente na divulgação e na melhoria da gestão desses trabalhos. 

Diariamente recebemos notícias de bons exemplos dessas ações em várias regiões do país, o que nos anima bastante a seguir com esse propósito. Infelizmente, também é frequente tomar conhecimento de fatos que nos deixam bem desanimados, sobretudo quando acontece em órgãos governamentais – justo eles que deveriam ser guardiões da boa gestão, do ordenamento jurídico de processos e da parceria entre o poder público e o voluntariado. 

Sei que minhas colunas não são partidárias e nunca serão um canal para falar de política. Não é este o caso. Hoje quero tratar de política pública. Quando vejo um gestor público investindo recursos e poder para disseminar o voluntariado de forma positiva, é preciso elogiá-lo publicamente, como ocorre em Pindamonhangaba, Petrolina e Goiás, entre outros lugares.

Agora, quando vemos um governo estadual fazer um chamamento público para 200 pessoas com as mais diversas qualificações técnicas, para realizar um trabalho voluntário, com subordinação explícita, pagamento de ajuda de custo mensal, carga horária de 6 horas diárias, 5 dias por semana, 1 ano de contrato, assinatura de ponto, entre outros, temos que ficar preocupados. 

Isso mostra o despreparo e o desrespeito à lei vigente, além da falta de preocupação com o erário, visto que esse governo está criando um passivo trabalhista gigante para o próximo mandatário do estado em questão. 

O que estou relatando é fato. Não vou revelar o nome do estado e do secretário de estado que está realizando isso por questões éticas, mas a publicação está em diversos jornais e no Diário Oficial do Estado. 

Cabe lembrar ainda que esse chamamento de “voluntários” causa uma desvalorização dos profissionais solicitados, pois se tratam de profissões técnicas serão altamente desqualificadas em relação ao salário mínimo em suas carreiras. 

Não podemos atrelar a força do voluntariado a um ato como o desse governador, pois isso é um desserviço para o setor. Fica parecendo que o trabalho voluntário é um vilão, uma forma de pagar pouco a profissionais qualificados. E isso não é verdade. 

Se o estado quisesse utilizar essa mão de obra especializada de forma voluntária, poderia perfeitamente fazer isso por meio de um processo verdadeiro e legal. Mas os governos insistem em achar que são donos da verdade, sem se preocupar com o recurso público, visto que não é deles mesmo. 

Temos de lutar por um serviço público mais responsável e pelo respeito ao trabalhador voluntário de nosso país.

*Roberto Ravagnani é palestrante, jornalista, radialista, consultor de ESG, voluntariado e sustentabilidade.

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