Bem da Madrugada expande projetos fora de São Paulo

A organização já é responsável pelo acolhimento de pessoas em situação de rua em mais 5 cidades do Brasil

O projeto de expansão é um dos principais focos do momento na organização Bem da Madrugada. A ONG, que atua em São Paulo há 23 anos, já chegou a outras cidades, como Campinas, Rio de Janeiro, Campo Grande, Salvador e Brasília. Além de expandir geograficamente, a organização também planeja ampliar seu atendimento, contemplando o segmento da educação.

Atualmente, o projeto auxilia a população de rua, fornecendo itens de alimentação, higiene e vestuário, atendimento psicológico e médico. Em entrevista ao portal Agência Pauta Social, a co-CEO do Somando Mais Ações, responsável pelo Bem da Madrugada, Thaís Pires, falou sobre o futuro da ONG, o projeto de expansão, desafios, captação de recursos, entre outros assuntos.

Pauta Social: Como surgiu a ideia do Bem da Madrugada?

Thaís: Há 23 anos, aproximadamente, o Bem da Madrugada iniciou com três amigos de faculdade. Com o Luiz Felipe, que está na ONG até hoje, e mais dois amigos. Eles saíram da faculdade e viram alguma pessoa em situação de rua e, por algum motivo, eles pensaram em ajudar depois da faculdade, levando um café, um pãozinho. E, quando viram, eles já estavam fazendo uma, duas, três vezes por semana e ajudando várias pessoas.

PS: Qual é a sua história dentro da organização? E qual experiência te marcou?

Thaís: Há 4 anos e meio, aproximadamente, comecei como voluntária no Bem da Madrugada. Depois, fui convidada a ser embaixadora do projeto na cidade de Guarulhos. Hoje sou co-CEO do Somando Mais Ações, responsável pelo Bem da Madrugada. Uma experiência que me marcou é a história do JB, que me deixa muito feliz. Em Guarulhos, eu conheci um rapaz que se chamava JB e ele era um atendido até então. Hoje, ele é um voluntário da ONG. Ou seja, ele não é mais uma pessoa em situação de rua e ainda ajuda o projeto que o auxiliou. Isso, sim, me enche o coração.  

PS: De que maneira vocês comunicam a causa?

Thaís: A nossa principal fonte de contato são os voluntários. A abordagem principal é o boca a boca, a gente pede muito pra um voluntário chamar o outro, para a galera falar nas empresas que trabalham sobre o voluntariado. Inclusive, na empresa em que eu trabalhava, uma multinacional, falei sobre o projeto lá dentro e, depois, a empresa começou a doar automaticamente para a nossa iniciativa. Em segundo plano estão as redes sociais, como o Instagram e o Facebook. 

PS: Como é a atuação de vocês, atualmente? 

Thaís: Antigamente, atuava somente com alimentação, só que a gente viu a necessidade, principalmente na pandemia, de levar algo para além da alimentação, ou seja, atendimento médico e psicológico. 

PS: Como vocês organizam as ações da ONG?

Thaís: Para uma ação, por exemplo, a preparação funciona da seguinte forma: antes de uma ação, a gente precisa organizar o local, saber quantas pessoas a gente vai atender, o que vai oferecer. Então, abre-se sempre um formulário de inscrição para saber realmente quem vai participar, qual será o nosso público de voluntários. Antigamente, a gente centralizava tudo no centro de São Paulo, só que a maioria das doações chegam lá. Sendo assim, a gente sentiu a necessidade de atender outras áreas de São Paulo, como a Zona Norte, a Zona Leste e a Zona Oeste. Na pandemia, portanto, começamos a fazer as ações de carro e a mapear as necessidades de cada área. Em São Paulo, tem toda semana, mas fazemos sempre em todo o Brasil. Ontem, por exemplo, teve em São José dos Campos, hoje vai ter no Rio de Janeiro, amanhã, outra cidade. Então, o Bem da Madrugada faz ações todos os dias em várias cidades do país.

PS: Existem critérios para se tornar um voluntário?

Thaís: Qualquer pessoa pode ser um voluntário. Às vezes, a pessoa não precisa nem ir nas ações para ser um voluntário, pode ajudar até de casa divulgando nosso projeto. Podem doar o tempo delas, doar itens, dinheiro também. Não precisa ter nenhuma formação em específico, apenas força de vontade e querer ajudar. 

PS: Como o Bem da Madrugada se mantém financeiramente?

Thaís: Nós somos uma organização sem fins lucrativos, sem nenhum apoio político ou religioso, então, a gente se mantém com doações de voluntários e parcerias.

PS: Qual o maior desafio da organização atualmente?

Thaís: São as doações. Às vezes a gente recebe muitas doações, às vezes, não, então tem que inovar, buscar formas de fazer com que essas doações cheguem. Se uma divulgação não está dando certo, vamos de porta em porta, entregamos panfletos, chamamos carro de som. Outro grande desafio é manter os voluntários. A ONG tem muitos, mas muitos entram e saem. Nossa missão é conquistar logo no primeiro contato. Cada ação pode ser impactante e nosso desejo é que ela seja inesquecível para cada um dos voluntários, assim como foi para mim.

PS: Vocês têm dados recentes sobre a população em situação de rua que vocês atendem? 

Thaís: Predominantemente negros e homens ainda, porém aumentou muito o fluxo de mulheres e crianças em situação de rua depois da pandamia. E os backgrounds são: traição, uso de drogas, perda de renda, briga com a família e problemas de saúde mental.

PS: Vocês vêem a necessidade de ter programas específicos dentro da ONG? Por exemplo, para mulheres trans e travestis.

Thaís: Então, o Bem da Madrugada é muito inclusivo. Hoje a gente tem voluntários que são de todo gênero, de toda raça, de toda religião. É muito legal. Na verdade, o projeto é deles. Com relação às ações, a gente faz algumas, como visitar casas de apoio voltadas à população LGBTQIA+. A Laurinha, uma mulher trans que a ONG já ajudou, na última vez que eu a vi, ela havia saído da situação de rua. Hoje em dia, ela é atriz e montou uma ONG voltada para a população da Cracolândia.

PS: Quais são os próximos projetos que vocês pretendem tirar do papel?
Thaís: Um sonho é trabalhar com a parte da educação. A nossa próxima meta é estruturar bem como nós vamos proporcionar isso para a população em situação de rua que atendemos. Queremos trabalhar para alfabetizar ou resgatar a vontade de estudar. Muitas pessoas em situação de rua já estudaram, fizeram faculdade, mas acabaram perdendo o interesse e a motivação. A gente quer mostrar o caminho para elas. Ainda é somente um sonho, falta muita estrutura para o projeto. Além do projeto de expansão, que é levar cada vez mais nosso projeto para outras cidades do Brasil.

(Rafaela Eid, da Agência Pauta Social)

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