Artigo: O que é e como calcular o Retorno do Investimento Social (SROI) 

Entenda como é possível “monetizar” os impactos, a partir de um modelo lógico sobre como as mudanças sociais são geradas para as partes envolvidas

Por Carla Damião (*)

O Retorno Social do Investimento (SROI, na sigla em inglês) é uma ferramenta que mensura as mudanças experimentadas pelas pessoas ou organizações, visando verificar o benefício financeiro gerado por determinado projeto. Ele envolve a análise dos resultados obtidos em relação aos recursos financeiros, tempo e esforços investidos.

Ao contrário do retorno financeiro tradicional, que mede o lucro econômico, o Retorno de Investimento Social busca avaliar os resultados sociais e ambientais alcançados. Ele vai equilibrar os resultados financeiros com a geração de valor social, promovendo a transformação e o bem-estar das pessoas envolvidas.

A contabilização é apresentada por uma proporção de custo-benefício entre entradas e saídas e o resultado social alcançado. Dessa forma, ele “monetiza” os impactos, segundo o modelo lógico de como as mudanças sociais são geradas para as partes envolvidas.

Uma proxy financeira é uma medida utilizada no método de Retorno de Investimento Social (SROI) para aproximar os impactos sociais e ambientais em termos monetários. Ela busca estabelecer um valor financeiro para os resultados e benefícios gerados por uma atividade ou projeto de impacto social.

Em vez de tentar atribuir um valor monetário direto aos resultados sociais, que muitas vezes são intangíveis e difíceis de quantificar, as proxies financeiras buscam identificar indicadores ou medidas relacionadas que possam ser convertidas em termos monetários.

Esses indicadores podem ser, por exemplo:

  • economia de custos,
  • redução de desperdícios,
  • aumento de produtividade ou
  • economia de recursos.

A ideia é que, ao estimar o valor monetário desses indicadores, é possível ter uma visão mais tangível e comparável dos impactos sociais e ambientais gerados pela atividade. Essa abordagem permite uma avaliação mais abrangente e mensurável do retorno do investimento social, ajudando a comunicar os resultados de forma mais clara e a tomar decisões informadas sobre a alocação de recursos.

No entanto, é importante ressaltar que as proxies financeiras são aproximações e estimativas, e nem todos os impactos sociais podem ser facilmente traduzidos em termos monetários. É necessária cautela ao selecionar e aplicar as proxies financeiras, levando em consideração a validade e a consistência dos dados utilizados, bem como o contexto específico de cada projeto ou atividade.

Os princípios do método determinam que as pessoas e organizações envolvidas sejam incluídas, que a mudança esperada esteja clara, que a análise seja relevante, que não haja muitas demandas, que haja transparência e que os resultados possam ser rastreados e verificados.

O SROI usa indicadores e valores monetários para identificar e aproximar os impactos gerados. Mesmo quando não é possível ter uma medida exata, é possível comparar a mudança e o impacto com outras ações que não ocorreriam sem a atividade.

O SROI também permite que as empresas avaliem riscos emergentes do impacto e alinhem objetivos de negócios com objetivos sociais mais amplos. Cada resultado deve ter valores intermediários com fontes que embasem a escolha e justifiquem a atribuição a esses resultados.

Para calcular o SROI, multiplica-se a quantidade de resultado por cada mudança esperada e cada parte envolvida pela Proxy Financeira correspondente. Esse valor é multiplicado pelo tempo em que a mudança foi observada para cada grupo. São feitas deduções para deslocamento, atribuição ou duração. No final, soma-se todos os resultados obtidos e divide-se pelos investimentos e recursos aplicados na atividade.

Passo a passo para Montar um SROI:

Passo 1: Identificar os Objetivos Sociais

Defina claramente os objetivos sociais do projeto, ou seja, qual é o impacto social que você deseja alcançar.

Passo 2: Mapear as Atividades do Projeto

Liste todas as atividades que serão realizadas para alcançar os objetivos sociais. Isso inclui os recursos necessários, como tempo, dinheiro, materiais e pessoal.

Passo 3: Identificar as Mudanças Geradas

Determine quais mudanças (ou resultados) são esperadas como resultado das atividades do projeto. Isso pode incluir melhorias na educação, saúde, emprego, bem-estar, entre outros aspectos sociais relevantes.

Passo 4: Definir Indicadores

Escolha indicadores mensuráveis ​​que permitirão acompanhar e avaliar o progresso das mudanças geradas pelo projeto. Por exemplo, número de pessoas beneficiadas, taxa de empregabilidade, redução da pobreza, etc.

Passo 5: Coletar Dados

Reúna dados relevantes para cada indicador escolhido. Isso pode incluir pesquisas, entrevistas, dados estatísticos, relatórios governamentais, entre outros.

Passo 6: Atribuir Valores aos Resultados

Atribua valores monetários aos resultados obtidos, considerando tanto os benefícios tangíveis (como economia de recursos públicos) quanto os intangíveis (como melhoria da qualidade de vida). Isso pode exigir a consulta a especialistas ou pesquisas de mercado para obter estimativas confiáveis.

Passo 7: Calcular o ROI Social

Calcule o ROI Social somando todos os valores monetários atribuídos aos resultados e dividindo pelo investimento total do projeto. Isso fornecerá uma relação de retorno, indicando o valor gerado em termos de impacto social para cada unidade monetária investida.

Passo 8: Analisar e Interpretar os Resultados

Analise os resultados do SROI e interprete o que eles significam em termos do impacto social alcançado. Identifique quais atividades ou resultados tiveram maior contribuição para o retorno social.

Passo 9: Comunicar os Resultados

Compartilhe os resultados do SROI com todas as partes interessadas relevantes, como financiadores, parceiros, equipe do projeto e comunidade. Destaque o valor social gerado pelo projeto e seu impacto positivo na sociedade.

Exemplo fictício para demonstrar o SROI de um projeto:

Imagine que você esteja avaliando um programa de educação para jovens em uma comunidade carente. O objetivo é melhorar a taxa de conclusão do ensino médio e aumentar as chances de inserção no mercado de trabalho.

Exemplo de Indicadores iniciais (dados coletados antes do projeto começar):

Frequência escolar: 70%

Notas: 6/10 em média

Autoestima: 5/10

Taxa de conclusão do ensino médio: 40%

Taxa de empregabilidade: 20%

Exemplo de Indicadores finais (dados coletados após o final do projeto):

Frequência escolar: 90%

Notas: 8/10 em média

Autoestima: 7/10

Taxa de conclusão do ensino médio: 70%

Taxa de empregabilidade: 50%

Cálculo do valor monetário dos impactos

Atribua um valor monetário a cada mudança nos indicadores.

Pode ser necessário pesquisar dados econômicos relevantes ou utilizar valores médios.

Exemplo de Valor monetário dos impactos:

Frequência escolar: Aumento de 20% * Valor médio do custo anual por aluno.

Notas: Aumento de 2 pontos * Valor médio do custo de uma reprovação.

Autoestima: Aumento de 2 pontos * Valor monetário atribuído a cada ponto na escala.

Taxa de conclusão do ensino médio: Aumento de 30% * Valor médio dos benefícios de concluir o ensino médio.

Taxa de empregabilidade: Aumento de 30% * Valor médio dos benefícios de conseguir um emprego.

Agora, com esses dados, conseguimos calcular o nosso SROI:

  1. Some os valores monetários dos impactos.
  2. Divida o total pelo investimento total no projeto.

Exemplo:

Suponha que o investimento total no programa tenha sido de $100.000.

Suponha também que valor monetário total dos impactos seja: $150.000

SROI: $150.000 / $100.000 = 1,5

Nesse exemplo, o SROI seria 1,5, o que significa que para cada $1 investido no programa, há um retorno social de $1,50.

Lembre-se de que os valores e indicadores utilizados são apenas ilustrativos. Em uma análise real de SROI, é importante obter dados e informações específicos do projeto em questão.

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(*) Carla Damião é diretora da Umanitar Academy (empresa social de treinamentos para Gestão de Projetos e Avaliação de Impacto), desenvolvedora de Negócios especializada em Gerenciamento de Projetos de Impacto Social.; finalista do prêmio britânico “SheInspires” na categoria de “Mudança Social; palestrante e editora de temas sobre Gestão Estratégica para OSCIs e Governos; redatora convidada dos jornais brasileiros Aupa Jornalismo, Nossa Causa e Folha de São Paulo; conselheira da ONG “Mensagem para a Liberdade”; e co-fundadora da ONG Eu sou a Glória.

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